Terezinha Oliveira Baraldo não tinha paradeiro. Aos 16 anos, ficava zanzando pela Praça da Alfândega, em volta da Confeitaria Matheus. Para casa, não podia ir porque a mãe a acorrentava. O pai, pianista da boate Tropical, nem queria saber da menina. Um dia, um tal de Virgílio jogou um xaveco: "Quer ganhar Cr$ 300 no mole?"
O bar Novidades ficava no comecinho da Andrade Neves. De cara, Terezinha notou os desenhos de sem-vergonhice nas paredes. No camarim improvisado, estavam outras duas moças, Tânia e Vera, que ela conhecia da praça. Chegou o Virgílio: "Agora vocês vão, uma de cada vez, dançar tirando a roupa, na frente do balcão. Primeiro, tu!".
Ela foi. Começou a tocar "Boneca de Carne" e um foco de luz iluminou Terezinha. Uns 50 homens no escuro olhando para ela. Começou uma dança lenta, fazendo poses, despindo peça por peça, apesar do frio úmido. E foi gostando. Não se perturbou nem quando o tal Vírgílio acertou uma bofetada numa das garçonetes, sabe-se lá por quê. Terezinha cumpriu o ritual até o final. Quando a música terminou, ela estava nua, sob aplausos do público, mas só conseguia tossir, resquícios de uma tuberculose recém-curada.
Logo depois, um rapaz falante começou a puxar assunto. Ela se agradou do moço e foi falando de si. Que tinha 16 anos, que andou doente, que a mãe a considerava doidivanas, que o pai era isso e aquilo. Ainda por cima, se deixou fotografar fazendo beicinho. No dia seguinte, não houve espetáculo. Mesmo com a polícia fazendo corpo mole, dois oficiais de Justiça fecharam a casa. A Última Hora saía com uma matéria denunciando o bar Novidades por exploração de menores e acusando os policiais de conivência. No canto da página, uma foto de Terezinha e um texto com alguns adjetivos: menor de idade, tuberculosa e débil mental.
Em vez de Tereza Oliveira Baraldo, está escrito o nome que ela inventou para o rapaz, mistura de miss com presidente:
Terezinha Morango Kubitschek Oliveira.
"Pôrto Alegre, Agôsto 61" (2001)