segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A próxima vez



O PREÇO DO PALA

O João Pedro era profissional de mão cheia. Muito conhecido e benquisto na zona em que trabalhava: rua Santa na próximo à Andradas. Tinha o seu salão, na parte da frente da sua residência. Assim, quando precisava fazer as necessidades ou tomar um café, simplesmente entrava, deixando a porta da frente aberta.

Mas o João Pedro tinha suas "tiradas".

De certa feita contou-me, então, este fato:

- Pois veja o senhor que eu deixei meu pala em cima da cadeira do salão, enquanto precisei ir lá dentro. Quando voltei, só vi pela porta, as franjas do pala, abanando na rua. Da porta vi que um sujeito estava roubando meu pala. Saí correndo atrás dele. Mas o bicho era corredor e se mandou, cruzando os trilhos, no rumo da Enfermaria Velha. Eu já estava cansado, mas não "floxei" até que peguei o ladrão, tomei o pala dele e ainda dei três tapas. O senhor acha que foi suficiente?

- Eu acho que foi pouco...

- Por quê?

- Porque esse teu pala é muito bom e vale caro. Com a inflação, coisa e tal...

- Mas é mesmo. Quantos tapas, então, o senhor acha que precisava?

- Uns cinco ou seis bem dados.

- Pois não tem problema. Eu conheço o ladrão e a próxima vez que encontrá-lo vou aplicar mais uns seis tapas bem fortes para completar o preço do meu pala.

Luiz Alberto Ibarra
Causos de Fronteira - Martins livreiro - 1992