Fenômeno “Seje”
Já faz algum tempo que se nota a presença incômoda do “verbete” “seje” em nosso cotidiano. Não que a língua portuguesa seja fácil, mas é quase deliberado o uso do “vocábulo”. Vez por outra ele é percebido em entrevistas, em novelas e pasmem, até mesmo vindo da boca de quem não devia – universitários, bacharéis, autoridades e políticos, só para citar alguns.
Tudo bem que é um verbo irregular e por isso tem um quê a mais de dificuldade, mas será que lá no coleginho da tia Tetéia não foi pelo menos uma vez conjugado? Ou lembrado mais recentemente?
O que impressiona é a quase forçada pronúncia do “seje”. Acredito que na maioria das vezes até o próprio interlocutor sinta certa estranheza ao proferi-lo. Mas, mesmo assim a utilização é reiterada. Exagero? Pesquisa rápida: Google: “seje”: 3,8 milhões de ocorrências. Ah, dentre elas temos as que corrigem o erro crasso. Novo exame: seje - seja - erro: 1,36 milhão. Se reparar bem, vai até notar alguns anúncios usando o “termo”! Nova busca: “seje” no Orkut, resultado, mais de 1000, entre elas 204 comunidades – claro que algumas são justamente – ainda bem – para criticar o uso errôneo da “palavra”.
Nem o YouTube escapa. Alguns vídeos achados: “Se for amor que seje verdadeiro” – vai ver o amor não é tão verdadeiro assim; “Viva e seje feliz” – será feliz e ignorante por toda a vida; “Seje vc um Rocky” – esse nunca será um Rocky; e até um assassinato de um verso de Vinicius de Moraes: “E que seje eterno enquanto dure” – com certeza alguma coisa vai durar pouco.
Uma explicação plausível para tanta incidência do equívoco é que no presente do subjuntivo o “e” final seja usado com bastante frequência – desculpe-me pelo eco. Mas, essa desinência só ocorre – em regra – nos verbos da primeira conjugação, final “ar”. Ou seja, somente para verbos como estar, falar, etc. Já os da segunda e terceira formam – não sei se há exceções – em “a” assim como o nosso seja.
O fato é que de tanto ouvir alguns menos letrados ou desatentos acabam se viciando no “seje” e o dão como certo. Um verdadeiro fenômeno. Fica uma dúvida será que existe erro verbal mais comum que esse?
Carlos Zev Solano, jornalista (rascunhosnanet.blogspot.com).