sexta-feira, 27 de junho de 2008

Boi engenheiro

Os engenheiros de Torres

A vida engendra histórias engraçadas, como aquela que se deu em Torres, envolvendo o saudoso Moysés Camillo de Farias e um grupo de engenheiros da Secretaria de Obras Públicas, vindos de Porto Alegre.
Estavam os doutores a serviço na cidade praiana, e chegando o sábado alguém alvitrou se visitasse o interior do município, o que se fez, sendo guia do grupo o próprio Moysés, Intendente do lugar.
Olhando coisas pelo caminho e fazendo perguntas, foram dar num alambique de cachaça. Ali, sendo pelo Intendente apresentados os forasteiros ao aguardenteiro, passou este, muito solícito, a mostrar aos ilustres visitantes as diversas partes da aparelhagem de sua indústria, dizendo-lhes o respectivo nome. E quando pouca coisa mais havia para identificar, Moysés apontou para o animal que girava pacientemente a moenda, indagando como se chamava ele, como parte daquele conjunto. E foi só o colono dizer, deu-se um esparramo de doutores, todos querendo sair pela única porta ali existente, a fim de poder rir mais à vontade, na rua, longe da presença do sisudo alambiqueiro. Porque o animal que tocava o engenho era o "engenheiro".
Explica-se: boi que puxa carro é "boi carreiro" e o que gira engenho é o "engenheiro".
Mal serenados os risos, teve o Intendente Moysés, diplomaticamente, de explicar ao desconfiado homem o comportamento de seus amigos. E por fim, sabedor o colono de que suas visitas eram doutores engenheiros, todos eles mais o dono da casa entregaram-se a novas e estrepitosas gargalhadas.
E foi assim, alegres, que retomaram à vila os excursionistas, no caminho cutucando-se uns aos outros, dizendo-se, com voz cantada: "boi engenheiro"...

Guido Muri (1916-2010)
Remembranças de Torres, As Vivências de uma Comunidade (1996)