domingo, 28 de outubro de 2007

Burros n´água

A décima da ponte


1 - Foi num dia de dezembro,
No ano de oitenta e quatro,
Era de Nosso Senhor,
Um banho que a rir deixou
Todo o povo do Estado.
Foi um estalo danado
Quando a ponte despencou.


2 - Torres, do Passo isolada
Pelas ribas do Mampituba
- Águas da separação -
Não fosse a pênsil ponte,
Velha, fraca e oscilante.
Pois tratou-se então da estréia
Da nova em lugar da velha
- A ponte da integração -


3 - Era um dia de sol bonito
Vinha gente de um lado,
Do outro lado vinha gente.
É que tudo estava assente
Para haver a inauguração
Dessa comunicação
Sombrio pra Torres, urgente.


4 - As comitivas chegaram.
Uma era a catarina,
Outra, do nosso torrão.
De cada banda, povo olhando
E foguetes estrondando
Cada qual com seu prefeito
E o povo satisfeito
Espera a inauguração.


5 - Em cada entrada um cartaz:
"Não mais de cinco pessoas",
Pra que haja segurança.
Mas o dia é de festança
E estão todos apressados.
Correm pro centro afobados
Já formando multidão
Esquecendo a precaução.


6 - Também as autoridades,
Era um grupo em cada ponta
Pra no meio se encontrar
E a pênsil inaugurar.
Muita gente em cada bando
E mal estavam chegando,
Foram n'água despencar.


7 - Uns nadaram muito pouco
E à velha ponte chegaram.
Pra outros foi só um banho
E na pele nem um lanho.
Do padre, a água benzida
É a única coisa perdida
Nesse mergulho tamanho.


8 - De Torres e de Sombrio
Vêm os técnicos de pontes
Pra ver o que houve c'os cabos
Que suportam os dois lados.
Trazem seus computadores
Dezoito sábios doutores
Mais seis outros diplomados.


9 - Em quinze dias de cálculos
E vintoito pros estudos,
Chegaram à conclusão
Que ansiava a população:
- Mesmo pra os fortes estais
Havia burros demais
Na ponte de integração...


Guido Muri (1916-2010)
Remembranças de Torres (1996)