Este livro em coautoria William Edmundson (historiador, João Pessoa-PB) e Ian Hart (respeitado historiador marítimo na Inglaterra) foi colocado à venda pela Editora DISAL:
É o primeiro livro a descrever de forma abrangente a história da caça de baleias no Brasil, começando com a atividade baleeira tradicional sob o monopólio da Coroa Portuguesa – o peixe real – até a introdução de navios modernos equipados com canhões-arpão no século XX. A história envolve a primeira caça de baleias por pescadores de Biscaia no Brasil colonial; as contribuições de baleeiros noruegueses; o polêmico estabelecimento de estações baleeiras administradas por japoneses no Rio de Janeiro e na Paraíba; e os movimentos a favor da conservação que conduziram à proibição final da caça de baleias depois de 1985. Este estudo incorpora muita pesquisa original baseada em fontes primárias escritas, e em entrevistas feitas com pescadores que caçaram baleias e com seus patrões japoneses e brasileiros. Esta história, até agora pouco compreendida, é instrutiva e fascinante – as tentativas de inserir carne de baleia dentro da culinária brasileira e o estabelecimento bizarro de um parque temático baseado numa estação baleeira são apenas dois exemplos disso.
Imbituba-SC, anos 50 – Foto de João Hipólito do Nascimento (1920-1992)
A seguir, resenha de Igor Morais, biólogo formado na Universidade Federal de Pernambuco e mestre em zoologia pela Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus, no sul da Bahia. Durante o mestrado, desenvolvido em parceria com o National Marine Mammal Laboratory da NOAA, em Seattle (Estados Unidos), realizou uma avaliação inédita da população reprodutiva de baleias-jubarte da costa brasileira ao incluir, pela primeira vez, os dados de capturas dos baleeiros no século XIX. É pesquisador colaborador do Projeto de Monitoramento de Baleias por Satélite e membro do Comitê de Bem-Estar Animal da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil.
"A história da caça de baleias no Brasil.Como resgatar uma história esquecida em um país com tão pouca memória, seja histórica ou recente, como o Brasil? Foi este o desafio que os historiadores William Edmundson e Ian Hart enfrentaram ao pesquisar uma atividade que, apesar de abranger mais de 380 anos da história brasileira, permanece negligenciada nas escolas e distante da mente do cidadão comum. Tal fato é nada menos do que surpreendente quando constatamos que esta atividade – a caça às baleias – chegou a ser um poderoso lobby do governo, estreitando as relações Brasil-Japão, e uma importante atração turística, responsável até mesmo por fomentar a criação de linhas aéreas.
No entanto, isso é apenas uma ínfima amostra das preciosidades que o livro “A história da caça de baleias no Brasil: De peixe real a iguaria japonesa” traz à tona, vindas das profundezas de um vasto mar de arquivos, bibliotecas, museus, revistas antigas e conversas com especialistas de renome, fruto de uma pesquisa sem igual feita por Edmundson e Hart no Brasil, Reino Unido, Noruega e Estados Unidos. Com linguagem acessível e um rico acervo de raras imagens, eles nos guiam através do surgimento das primeiras estações baleeiras na costa, denominadas “armações” durante o Brasil colonial, e da modernização da atividade no início do século XX, quando imigrantes britânicos e holandeses, com uma pequena ajuda de mãos norueguesas, substituíram os barcos a remo e vela com arpões manuais por navios a motor com canhões que disparavam arpões explosivos.
O uso de tais técnicas atingiu seu auge com a chegada dos japoneses nas estações localizadas nos litorais da Paraíba e Rio de Janeiro, que trouxeram também inusitadas estratégias de marketing pelo consumo de carne de baleia e o inacreditável caso do arpoador que, até se aposentar, matou 30.000 baleias e errou apenas um tiro ao longo da sua carreira. Destas histórias ora prosaicas e às vezes bizarras da exploração das baleias, os autores passam à mudança de consciência da população brasileira com relação a estes animais, num momento quando personagens aparentemente tão díspares como um adolescente gaúcho e um Almirante Vice-Chefe das Forças Armadas uniram-se para fortalecer o movimento “Salvem as baleias!” no país.
É neste movimento que repousa o germe de projetos como o Baleia Franca, Baleia Jubarte e Monitoramento de Baleias por Satélite, que se dedicam à pesquisa e conservação dessas espécies nos dias atuais e dos quais boa parte da informação sobre a biologia destas disponível no livro se origina. Em um ano onde o Brasil comemora a saída da baleia-jubarte – um dos alvos favoritos dos baleeiros no passado – da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a prodigiosa obra de Edmundson e Hart serve como uma prova dos avanços pela conservação da biodiversidade que somos capazes de fazer quando aliamos o conhecimento científico à educação do público. Quem sabe, ao ficarmos alertas quanto aos erros do passado, possamos estar mais inspirados e esperançosos para enfrentar os desafios ambientais ainda maiores da atualidade e os que, por ventura ou não, o futuro traga."