Nas viagens que faço pelas cidades do interior gaúcho tenho como hábito ouvir rádio, seja dirigindo o carro ou no local em que fico hospedado. Conhecer diferentes manifestações culturais pode ser para qualquer pessoa uma forma de crescimento, mesmo naquelas localidades das quais o senso comum atribui, como lugares atrasados e que pouco tem para contribuir com a nossa formação. Puro engano, aí está uma oportunidade de conhecer o diferente, o peculiar e o genuíno, pois nos cursos de rádio jornalismo, além de todas as normas e regras tem uma que se sobressai: Seja você mesmo.
O advento das rádios comunitárias trouxe para muitas localidades, principalmente as rurais, uma oportunidade fantástica de manifestação popular. Ao percorrer as estradas poeirentas do interior é comum o rádio sintonizar uma emissora e ali um radialista empolgado. Imagino que esta pessoa ao microfone, mesmo que seja apenas para sua comunidade tem o poder de influenciar, esclarecer, informar, desinformar e até mesmo causar grandes confusões. A pessoa do microfone pode ser alguém da própria comunidade, em trabalho quase voluntário ou um profissional do rádio trabalhando por um ideal ou em troca de apoios culturais.
A comunicação rural, assim como o jornalismo esportivo tem suas especificidades. Quem está por traz dos microfones tem que ser do meio, ou pelo menos estar interado do assunto. Caso contrário pode ocorrer casos pitorescos e até engraçados como este lá do interior de Alegrete. Segundo minha prima Dora, um locutor entusiasmado fazia a narração de um remate de ovinos, onde sucessivos lotes ingressavam no pavilhão de remates, enquanto o narrador falava de suas características com raça, pelagem, idade. A cada lote ele recebia uma folha de papel com letras e números escritos à mão, com caligrafia sofrível.
Pois bem... Em um desses papéis com garrachos, o locutor que era da cidade e não possuía muitos conhecimentos sobre o meio rural narrou com pompa: Senhoras e senhores: O lote de borregas que estamos assistindo agora é da raça Corriedale e pertencem a uma Cabanha do Uruguai. São ovelhas com 246 dentes e ... Hehehehe (risos do locutor). Depois exclamou: - Nossa! Quanto dente tem essa ovelha, tchê!
Quem é do ramo sabe que a dentição em ovinos tem a ver com a idade: 2, 4 e 6 dentes. As borregas com 2 dentes incisivos na mandíbula possuem de 13 a 24 meses, com 4 dentes de 24 a 32 meses, com 6 dentes elas tem de 32 a 40 meses, isto conforme a raça. Os ovinos também possuem dentes de leite que somam 20 no total. Após todas as trocas e na idade adulta somam 32 dentes. Quando completam a dentição são chamados de “boca cheia”.
Quem passou pela disciplina de Radiojornalismo na universidade, ministrada pelo meu colega e amigo professor Jorge Malhão, ou até mesmo por outro curso pode relembrar algumas dicas de redação radiofônica: Nomes estrangeiros, números e percentuais devem ser escrito por extenso; usar frases curtas, que facilitem a leitura interpretativa e o entendimento do ouvinte; escrever exatamente como você costuma conversar, ou seja, com naturalidade; usar verbos no presente, pois indicam ação e atualidade; evitar palavras que possam dar duplo sentido à mensagem; a mensagem deve ser escrita de forma objetiva, clara e simples; manter corretamente as concordâncias verbais, escrevendo dentro das regras de um bom português; entre outras.
Marco Medronha