Candinha, na real, nunca existiu!... O escritor e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos no livro "Feliz 1958: o ano que não devia terminar", publicado em 1998.
Nãããooo diiigaaa?!!! Mas que fofoca!
"Maysa apaixonou-se decididamente pelo ator Milton Moraes. Ele, idem. Amor tão impetuoso mas que já acabou com briga."
"Vi o Cyll Farney e a Neide Aparecida, bem pertinho da TV Tupi, conversando carinhosamente dentro de um automóvel. Eram quase 24 horas."
"Norma Bengell e Elizabeth Gasper quando se encontram sorriem, abraçam-se. Mas quando se separam, a 'tesoura' funciona para valer."
"Isaurinha Garcia brigou com Walter Wanderley e em seguida cortou os pulsos. Mas já está bem."
"Tomando muito vinagre, a vedete Alma Bergh. Motivo: emagrecer."
"Juntinhos e felizes, na rua do Ouvidor, encontrei o Domício Costa e a Elen de Lima. Depois eles dizem que não."
É verdade que Fidel e Che já estão descendo a Sierra Maestra para derrubar Batista no réveillon de 59, e que Ferreira Gullar, brigado com os irmãos Campos, inventa um concretismo à beira-mar. Mas, who cares? As notícias que o povão queria ler em 1958 eram as que saíam nos "Mexericos da Candinha", uma coluna de notas lançada naquele ano na Revista do Rádio. Põe a mão no queixo para ele não cair de novo – nãããooo diiigaaa?!!! –, porque lá vem mais fofoca:
"Carlos Gonzaga, aquele cantor que começou há pouco tempo, botou uma máscara tão grande que até parece escafandro."
"Dóris Monteiro continua visitando o Tenente Bandeira quase que diariamente no presídio."
"Dolores Duran decidiu mesmo o desquite. Ela e Macedo Neto estão separados há algum tempo. E alguém, que não é do rádio, já mora no coração dela."
O Brasil se divertia à beira do rádio e, talvez pela última vez naquela década, a Nacional, PRE-8, ainda tinha muito mais charme do que a TV Tupi e a Rio juntas. Candinha, que no rosto desenhado em sua coluna aparecia sempre com ar trêfego, atendia à expectativa dos fãs. Eles queriam saber como os ídolos gastavam seus cachês, como eram na intimidade dos bastidores. E, principalmente – vamos ao que interessa – quem passeava naquelas lambretas deslumbrantes das vedetes.
O cantor Jorge Goulart diz que não existia uma única Candinha:
– Os fuxicos eram coletados com os próprios artistas por uma funcionária da Nacional, Sílvia Donato, que os passava para a revista – historia Goulart, que era membro do Partido Comunista, visitou Moscou naquele ano e, casado há séculos com a cantora Nora Ney, também andou circulando pela Candinha na iminência de um desquite. – A maioria dos focalizados gostava. As notas tinham um lampejo de inteligência que pegava bem para o grupo. Afinal, gente inteligente se picha inteligentemente.
A Revista do Rádio chegava a tiragens de trezentos mil exemplares semanais e sua Candinha era apenas a personagem mais expressiva do incrível assanhamento do país em torno dos programas da Mayrink Veiga, da Tupi e, principalmente, de qualquer coisa que viesse daquele endereço mágico, Praça Mauá 7, 22° andar, o auditório da Nacional do Rio. Caetano Veloso já disse que passou todos os seus sábados de 1958 plugado, das 15h às 18h45, no "Programa César de Alencar". Marisa Monte adoraria ter nascido antes para fazer o mesmo. A Rádio Nacional era a Rede Globo. Com uma diferença: tudo era feito aqui e, como dizia a propaganda antitelevisão que circulou naquele ano, você não precisava parar os afazeres de casa para ficar olhando. [...]
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Candinha? Quem é Candinha?
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