quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nós estamos aqui [...] não para gozar um céu imaginário nem para fantasiar um inferno que devemos evitar

O livro biográfico "As vidas de Chico Xavier", escrito pelo jornalista Miguel Souto Maior, publicado em 1994, é recheado de episódios curiosos, alguns chegam a ser engraçados, como esse:

"Chico Xavier ficou deprimido. A culpa tomou conta dele. Os 'espíritos inferiores' atacavam seus amigos e parentes como forma de atingi-lo. Seus adversários eram punidos com mortes trágicas. Todos sofriam por sua causa. Conclusão: ele era má companhia tanto para aliados como para os rivais.


Estava tão só e inconsolável que decidiu pedir a Emmanuel não um conselho, mas uma orientação da própria Maria de Nazaré. Alguns dias se passaram e o guia voltou com uma frase atribuída à mãe de Jesus:


– Isso também passa.


O rapaz se sentiu anestesiado. Escreveu o recado num papel e o colocou na cabeceira da cama. Todas as noites e manhãs ele lia a frase e se consolava. Emmanuel tratou de fazer uma ressalva: a frase valia tanto para os momentos tristes como para os alegres.


O efeito da anestesia passou logo. O pessimismo voltou. Em outubro de 1958, Chico tomou uma decisão surpreendente: iria experimentar o ácido lisérgico. Perguntou a Emmanuel se ele poderia fazer a experiência com amigos de Belo Horizonte. O guia se ofereceu para promover a 'viagem'. À noite, Chico se sentiu fora do corpo, Emmanuel se aproximou dele, colocou uma bebida branca num copo e explicou: aquele era um alcalóide capaz de produzir o mesmo efeito do LSD.


Chico engoliu a bebida, um tanto amarga, e começou a se sentir mal, como se estivesse entrando num pesadelo. Animais monstruosos se aproximavam e cenas assustadoras desfilavam diante de seus olhos. Ele acordou com mal-estar. O sol parecia uma fogueira e o irritava, as pessoas o cercavam, desfiguradas. À noite, Emmanuel reapareceu com a lição psicodélica: o alcalóide refletia seu estado mental.


Chico quis saber como recuperar a tranquilidade e escapar da ressaca. Receita: oração, silêncio e caridade, para colher vibrações positivas.


Chico seguiu à risca as dicas. Começou a visitar doentes pobres, a caçar bons fluidos e, durante cinco dias, trabalhou para se refazer. No sexto dia ele se sentiu melhor. À noite, Emmanuel voltou e propôs repetir a experiência com o mesmo alcalóide. Mesmo desconfiado, o discípulo concordou. O efeito foi surpreendente: alegria profunda. Teve sonhos maravilhosos, visitou uma cidade de cristal, olhou para o céu como se ele fosse de vidro. Até a Fazenda Modelo ficou deslumbrante. Os livros pareciam encadernados por safiras e ametistas, luzes saíam do corpo dos companheiros, das plantas e dos animais. Chico sentiu vontade de abraçar todo mundo. Ficou assim, em êxtase, quatro dias seguidos, em estado de alegria descontrolada, insuportável. Emmanuel apareceu com as explicações:


– Você está vendo seu próprio mundo íntimo fora de você.

Moral da história:


– Nós estamos aqui para cumprir obrigações, não para gozar um céu imaginário nem para fantasiar um inferno que devemos evitar."