Como decorrência de minha atividade profissional, desloquei-me, provisoriamente, da fronteira oeste para Santiago do Boqueirão.
Diversos colegas de outros municípios convergiram para aquela região, onde as adversidades climáticas haviam frustrado as lavouras.
Nosso trabalho seria visitar as lavouras cujos proprietários haviam requerido o Seguro Agrícola a fim de realizar perícia e emitir o respectivo laudo.
Distribuídas as missões, coube-me seguir rumo às Missões, para o distrito de Carovi.
Seguindo a estrada de terra vermelha, ao passar um caponete de mato, depara-se com um marco, à esquerda. É o local onde tombou o famoso caudilho maragato Gumercindo Saraiva, em agosto de 1893, durante a Revolução Federalista, atingido por uma descarga, quando realizava o reconhecimento do terreno para o grande combate que se realizaria no dia seguinte.
Continuando meu caminho, cheguei ao meu destino. Constatei que era uma propriedade média, tipo estanciola, onde se criava gado e plantava trigo, soja e feijão.
Terminado meu trabalho, por volta das onze e meia, preparava-me para seguir adiante, quando partiu do proprietário a pergunta de chofre, à queima roupa:
- Mas o senhor vai sestear, não vai?
Surpreendido com a indagação, procurei me refazer e, mostrando a minha relação de perícias, respondi:
- Não, ainda tenho muito trabalho pela frente.
- Mas a minha mulher já preparou tudo e está lhe esperando.
Aí, de surpreso passei a assustado. Pensei comigo: vou desapontar a pobre senhora, pois nem sono tenho. Mas ele insistiu:
- O senhor vai gostar...
Nesse ponto, eu nem sabia mais o que fazer, quando ele completou:
- Tem feijoada, carreteiro e linguiça frita.
Só então fui perceber que o convite era para almoçar.
De volta à cidade fui informado que “sestear” ali, significa almoçar e descansar um pouco no galpão. Porque, na minha terra, sestear é dormir mesmo a sono alto e às vezes... até...
Luiz Alberto Ibarra
Publicado em Prosa Extensionista no site www.emater.tche.br